"Ainda Estou Aqui"
O grande mérito de Ainda Estou Aqui é costurar, com delicadeza e crítica, diferentes dimensões da experiência humana e social brasileira. Ao mesmo tempo em que o autor narra a brutalidade do Estado durante a ditadura, ele humaniza essa memória através da vivência familiar, mostrando que a política não é um campo abstrato — ela invade casas, corpos, relações. É um livro que denuncia, mas também acolhe, porque transforma o trauma em narrativa, a dor em memória e a injustiça em um apelo por verdade. A questão da identidade também é central. Marcelo Rubens Paiva vê-se, desde cedo, privado de um pai desaparecido e, mais tarde, confrontado com a perda da autonomia física. Ele se reconstrói nesses vazios — como filho, como homem, como cidadão — e a escrita torna-se, ali, um ato de resistência. Isso o torna um exemplo poderoso de superação e resiliência, não no sentido vazio do “herói individual”, mas como alguém que encara a dor com lucidez e crítica.
Aplicação mais ampla na redação
Além dos temas diretos que mencionei antes, o livro pode ser evocado em questões mais amplas, como:
Direito à memória e à verdade: Essencial em temas ligados à justiça de transição e à democracia.
Capacitismo e inclusão social: Um exemplo real e complexo de vida com deficiência que desafia estereótipos.
Humanização do cuidado: A relação do autor com a mãe mostra como o envelhecimento e as doenças exigem um olhar mais empático e políticas públicas de acolhimento.
Literatura como ferramenta de resistência: A obra também mostra como a escrita pode ser um instrumento de preservação histórica e luta por justiça.